Banco Central leva educação financeira a imigrantes, em São Paulo
20.09.2018 – Planejamento, Orçamento e Gestão.

Para ajudar imigrantes que chegam ao Brasil e se deparam com uma nova realidade de finanças pessoais e com particularidades do sistema financeiro brasileiro, membros da Rede Interna de Colaboradores em Educação Financeira do Banco Central (BC) realizaram palestra para imigrantes venezuelanos no Centro Temporário de Acolhimento (CTA) em São Mateus, São Paulo, em agosto.
Em parceria com o Ministério da Justiça (MJ) e com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) da Prefeitura de São Paulo, a ação teve público de cerca de 40 pessoas, de idades diversas, que estavam alojados no CTA. O grupo faz parte de um projeto-piloto voltado a imigrantes de todas as nacionalidades atendidos pela Prefeitura.
Segundo o analista no Departamento de Operações Bancárias do BC, Ricardo Laureno, palestrante da ação, “foi possível sentir que podemos fazer a diferença na vida daquelas pessoas. Mesmo que fossem apenas dez participantes, já estaríamos ajudando a sociedade, dentro da missão e dos temas trabalhados pelo Banco Central”, afirma.
O servidor acredita que o sucesso da iniciativa deve-se também ao perfil da audiência, pois, apesar das dificuldades, a maioria daqueles imigrantes está se inserindo aos poucos no mercado de trabalho. “Nossa palestra faz sentido para quem possui algum tipo de renda, mesmo que pequena, porque gera o interesse em saber como fazer esse dinheiro valer mais”, acredita.
Um dos assuntos abordados foi o dinheiro brasileiro e as cédulas do real. “Alguns trabalham no comércio e precisam identificar se as notas são verdadeiras. Ensinamos que existe o aplicativo Dinheiro Brasileiro, que auxilia na identificação, utilizando o celular.”
A analista do BC em São Paulo, Carolina Naka, que também faz parte da Rede e auxiliou Ricardo na iniciativa, considera que outro fator importante foi o BC ter ido até os venezuelanos. “Uma palestra na Avenida Paulista, no prédio do BC, poderia intimidar, e talvez não tivéssemos uma adesão tão interessante”.
Ela complementa que “parte deles pode se tornar multiplicador de conhecimento, ou seja, pode repassar o que aprendeu para outras pessoas na mesma situação.”
Interiorização
“A falta de organização financeira pode ser um grande empecilho para o crescimento do imigrante em um país diferente”, explica Bernardo Laferté, coordenador-geral do Comitê Nacional para os Refugiados, do Ministério da Justiça. A escolha para iniciar o piloto com os venezuelanos surgiu de visita que Bernardo fez ao CTA em São Mateus no início do ano, que na época acolhia 180 imigrantes no processo de interiorização. “Eles tinham dificuldade de compreender o valor do real, porque perderam noção do valor da moeda venezuelana, que passa por um processo de hiperinflação”, observou.
Particularidades brasileiras
Entre as dúvidas, estava a diferença entre comprar à vista e a prazo. Nem sempre os imigrantes percebem que a compra parcelada pode sair mais cara. Outra questão abordada foram as tarifas bancárias. “Explicamos que existe a possibilidade de utilizar contas com serviços essenciais, isentas de tarifa”, detalha Carolina. Além disso, os participantes não sabiam a quem recorrer quando tivessem problemas com instituições financeiras. A orientação é contatar os serviços de atendimento das instituições; caso não sejam atendidos, devem contatar o Banco Central ou os órgãos de proteção ao consumidor.
“Quando o imigrante começa a trabalhar, é importante que ele entenda de gestão de finanças pessoais. Muitos deles encontraram dificuldades em abrir conta em banco, sendo que já existe uma norma que determina que o Protocolo de Pedido de Refúgio, fornecido pela Polícia Federal, é documento hábil para identificação do depositante”, explica o gestor da Rede, Marcos Brandão, chefe da divisão de Educação Financeira no Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do BC. O direito está previsto na Carta-Circular nº 3.813/2017.
Preocupação global
De acordo com o chefe adjunto do Depef, Ronaldo Vieira, o tema da inclusão financeira de refugiados faz parte há algum tempo da agenda da Global Partnership for Financial Inclusion (GPFI), iniciativa do G20 da qual o BC participa. Outras ações desse tipo podem ocorrer no futuro. “É preciso reconhecer o engajamento do pessoal da Rede Interna de Colaboradores em Educação Financeira, que buscou adaptar a palestra para esse público específico. Nesse primeiro momento realizamos a ação em São Paulo, por se tratar de grande centro urbano, que atrai muitos imigrantes, de diversos países”, esclarece Ronaldo.
Para formatar a palestra, foi realizada reunião prévia com o Centro de Referência e Atendimento a Imigrantes (CRAI), da Secretaria de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, na qual foram colhidas informações sobre as necessidades e os temas mais interessantes para o público imigrante.
Ampliar parcerias
O estado de São Paulo concentra 66% de todo o fluxo migratório do Brasil e tem o principal aeroporto internacional, que funciona como porta de entrada e, muitas vezes, destino final desses estrangeiros. “A própria cidade de São Paulo é construída com base na imigração e possui amplo mercado de trabalho capaz de incorporar diversos profissionais”, analisa Laferté.
Segundo ele, a intenção é ampliar a parceria com novos públicos não só em São Paulo, como replicar a ação em outras regiões do país. A segunda ação nesse escopo será no Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI), com participantes de várias nacionalidades, em data a ser divulgada em breve.
Fonte: Banco Central do Brasil – 19/09/2018
Link: https://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/c/noticias/293